Atingidos participam do desenho das casas do reassentamento de Bento Rodrigue


Arquitetos da Fundação Renova realizam reuniões coletivas e individuais com as famílias

24/07/2018 às 17h11

Ressignificar o modo de vida dos atingidos de Bento Rodrigues dentro do território onde a comunidade será reorganizada é a missão dos profissionais envolvidos nos desenhos das casas do reassentamento em Lavoura, terreno escolhido para a reconstrução do distrito destruído pelo rompimento da barragem de Fundão.

Os arquitetos iniciaram uma série de encontros coletivos e individuais para entender as necessidades desses grupos e construir vínculos. “Para termos mais assertividade, é preciso determinar uma relação de confiança entre a comunidade e estes profissionais, além de considerar toda a dinâmica social”, afirma Alfredo Zanon, especialista em Obras e Projetos da Fundação Renova.

Após intenso treinamento que durou cerca de três meses, os arquitetos tiveram um primeiro contato com os atingidos, em 30 de maio. Esta fase contou com a apresentação da equipe para as famílias e com a exposição dos passos a serem executados durante o processo.

 

Em seguida, foi feito o agendamento das reuniões individuais, em que cada núcleo familiar é atendido por um arquiteto, selecionado de acordo com a afinidade e decisão de cada grupo.

Esses encontros são divididos em seis fases. A primeira, Conhecer, busca construir uma proximidade com a família. A segunda,Lembrar, tem a função de resgatar a memória. Os membros do núcleo familiar recordam a dinâmica do grupo e os detalhes construtivos, como a área externa, a disposição dos cômodos e os locais de passagem, de reuniões sociais e de intimidade.Fotografias, histórias e objetos colaboram com o resgate.

A etapa Criar introduz o contato com o espaço e com os primeiros traços. A família desenha um croqui para despertar o afeto e ressignificar o espaço a partir das demandas atuais. “É importante perceber, neste ponto, que muito do que existia na antiga residência passará por um processo de ressignificação após momentos de perdas e rupturas. Readequações dos espaços surgem devido às atuais necessidades de cada um”, comenta Zanon.

Após a supressão vegetal, estão previstas idas a Lavoura para o reconhecimento do lote e percepção da relação de vizinhança, da insolação, da posição das casas, entre outros. Enquanto as visitas não são possíveis, os arquitetos simulam os terrenos em meio virtual.

Ainda nesta fase, os arquitetos começam a desenvolver o desenho da casa com as informações coletadas. Uma maquete 3D desenvolvida pela equipe permite visualizar o arranjo final da construção.

Durante a etapa seguinte, Ajustar, é feita a revisão detalhada do que foi desenhado. Já na quinta fase, Escolher Materiais, as famílias definem o acabamento que será aplicado nas residências.

A última fase, Bens de uso coletivo na Metodologia, desenvolve os projetos de equipamentos urbanos, como escola, igrejas, praças, posto de saúde, posto policial, parque linear, entre outros. A disposição desses equipamentos deve conversar com a posição das casas e com os hábitos coletivos da comunidade.

Durante a obra, as famílias poderão visitar as construções, vivenciando a execução e possibilitando criar laços com o novo espaço.Pode surgir, ainda, a necessidade de outros encontros. “O desenho das casas abarca mais do que a percepção da estrutura física, como locais de passagem, áreas onde as pessoas trabalhavam e o reconhecimento dos espaços onde elas habitavam. Significa cuidar do território onde a vida será reorganizada, criando relação de afeto com este novo território”, reforça Zanon.

A metodologia dos arranjos de cada casa está em definição com o Ministério Público, a assessoria técnica Cáritas, Secretaria de Cidades e de Integração Regional (Secir) e representantes da comunidade. Para o início da construção de cada casa, será preciso o alvará dos órgãos competentes. Todas as residências serão entregues em fase única aos atingidos.

 

Avanços

Em 5 de julho, a Fundação Renova obteve, da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), o licenciamento ambiental para o reassentamento de Bento Rodrigues. Após a obtenção da anuência da Secretaria de Estado de Cidades e de Integração Regional (Secir), bem como a emissão do alvará pela Prefeitura de Mariana, será possível iniciar as obras de infraestrutura como pavimentação, drenagem, redes de esgoto, distribuição de água e de energia.

 

A construção do canteiro de obras ocorre desde 11 de maio. Escritórios e estruturas de apoio das empresas vão ocupar uma área aproximada de 10 mil m2 e darão agilidade para o início das obras do distrito.

 

Com a participação e envolvimento das famílias de Bento Rodrigues, o projeto urbanístico da vila foi aprovado no dia 8 de fevereiro deste ano, com 99,4% dos votos.  O novo distrito deverá preservar, ao máximo, as características originais e os aspectos patrimoniais, urbanísticos e culturais de Bento Rodrigues, sobretudo a relação de vizinhança. O reassentamento está previsto para ocupar uma área de aproximadamente 98 hectares.


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