Caso Charles: 'Fui lá ver e ele estava muito machucado', diz mãe de jovem

Segundo sua mãe, Charles estudava para tentar um intercâmbio

Em entrevista, mãe de Charles Reis, encontrado morto dentro de uma cela de delegacia em Ouro Preto, questiona atuação da PM

29/08/2022 às 17h41

'Fui lá ver e ele estava muito machucado'. O desabafo é de Jeanete Alves, mãe do estudante Charles Wallace dos Reis Aguiar, de 23 anos, encontrado morto dentro de uma cela de delegacia em Ouro Preto no domingo (21/8), em entrevista concedida ao portal Sou Notícia, de Itabirito, cidade de origem da família.

Para Jeanete, faltou respeito das autoridades com ela e seu filho. A mãe do estudante também se mostrou indignada com a falta de informações, visto que recebeu a notícia que Charles havia se suicidado, mas o encontrou bastante ferido.

‘Uma mulher me ligou de manhã, no domingo, falando que ele tinha se suicidado e que o corpo estava aqui no cemitério. Fui lá ver e ele estava muito machucado. Ninguém comunicou nada. Acho isso um absurdo, pois ele tem família, era um estudante. Não tiveram um pingo de respeito nem com ele, nem comigo.’

Jeanete também questionou, na entrevista, o tratamento oferecido para o jovem na Unidade de Pronto Atendimento, para onde Charles foi levado antes de ser encaminhado para a delegacia de Ouro Preto.

‘Se passaram com ele na UPA, porque não cuidaram dele lá? O menino que estava com ele falou pra eles (médicos) que ele tinha depressão; que tomava remédio. Por que não cuidaram dele?’.

Um dos pontos mais questionados por familiares e amigos é o fato de Charles ter sido colocado em uma cela, na versão da polícia, com um objeto como um tirante para canecas. Segundo Jeanete, o jovem tinha que ter sido ajudado e não detido daquela forma.

‘Ele precisava de ajuda. Ele tinha medo de ficar sozinho. Coitado, não consigo nem imaginar o desespero que ele passou. Meu coração dói tanto só de imaginar o que fizeram com ele.’
 

Covardia

‘Trataram meu filho como lixo’, esse é o sentimento da mãe, que, além de se indignar com a forma com que a situação foi conduzida, também falou sobre o filho e como ele  vinha se recuperando da perda do pai. Ela ainda afirmou que o caso foi ‘muita covardia’.

‘Ele tinha sonhos de se formar. A vida dele era a faculdade. Ele era um menino depressivo pela morte do pai, sem apoio da família do pai. Estava melhorando, feliz, veio aqui passar as férias, tava muito feliz, disse que estava fazendo algo para tentar um intercâmbio. Ele estava muito alegre, brincando. Não acredito até agora que ele se foi de uma maneira tão cruel. Muita covardia.’
 

Relembre o caso 

O estudante Charles Wallace dos Reis Aguiar, de 23 anos, aluno de História na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), foi encontrado morto na madrugada do último dia 21 de agosto, na delegacia da Polícia Militar de Ouro Preto, enforcado com um tirante para canecas.

Segundo a Polícia Militar, Charles, que era negro, gay e militante de movimentos sociais, foi detido após uma discussão com seu namorado, na noite de sábado (20/8), em Mariana, quando ele teria desacatado os policiais, chamados para apartar a confusão. Levado à delegacia de Ouro Preto, Charles foi colocado em uma cela e, momentos depois, encontrado sem vida.

Apesar da polícia sustentar a versão de suicídio, amigos, a UFOP, instituições estudantis e figuras políticas cobram explicações sobre o caso, que consideram pouco esclarecido.

A morte de Charles, agora, está sendo investigada pela Polícia Civil. A corporação informou que o laudo tem prazo de até 30 dias para ficar pronto e que um inquérito foi instaurado para apurar a causa e circunstâncias da morte.

Fonte: Estado de Minas


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