Construção no pico da Cartuxa inviabiliza a prática de voo livre em Mariana


31/08/2020 às 20h06

Um chalé construído pelo proprietário de parte do terreno perto da rampa de decolagem no pico da Cartuxa é uma ameaça para os praticantes de voo livre em Mariana. Segundo a Associação Marianense de Voo Livre (AMVL0) o local possui uma rampa de madeira para decolagem que encontra-se imprópria para a prática do esporte depois da construção. O local se tornou inseguro para a prática do voo livre e altamente propício a acidentes.

O pico da Cartuxa, cartão postal de Mariana que se ergue sobre o município é uma elevação que chega a 1343 metros. Apesar da beleza natural e os fatos históricos que cercam o pico da Cartuxa, sem dúvida, seu destaque como ponto turístico, foi impulsionado no final da década de 1990 pela prática do voo livre. 

A história do esporte no município de Mariana se fortalece com a dedicação do prof. Décio Gabriel, que trouxe o festival de voo livre em 2004, evento esse se repete vez ou outra.

Em sua live semanal o prefeito Duarte afirmou que o pico da Cartuxa já tem garantido uma verba de 25 milhões para ser investido na modernização da rampa e infraestrutura de turismo. A área já é de utilidade pública para desapropriação.

Não conseguimos contato com o proprietário do chalé.

Segue a nota da Associação Marianense de Voo Livre (AMVL):

NOTA DE ESCLARECIMENTO AMVL

 

Após a reunião ordinária, ocorrida na Câmara Municipal de Mariana no último dia 10/08/2020, a Associação Marianense de Voo Livre (AMVL) vem a público prestar alguns esclarecimentos:

 

1º- Voo livre de Mariana

A Associação Marianense de Voo Livre – AMVL, é uma associação livre e independente e sem nenhum fim lucrativo. A associação foi criada para se tornar uma entidade de representação do voo livre em nosso município, como constam em atas e tendo seu Registro em Cartório para formalização oficial junto aos órgãos competentes.

O voo livre se faz presente em Mariana, com efetividade constante desde o ano de 2004, quando a prática na cidade se tornou popular e reconhecida pelo Município. Desde então, a prefeitura vem apoiando todos os anos os eventos realizados.

No ano de 2016, veio ao nosso conhecimento que o terreno era propriedade privada, a partir desta data, fizemos várias tentativas de negociação com o proprietário do terreno, procurando chegar numa solução amigável, com o objetivo de utilizarmos o local com harmonia, onde preservaríamos a naturalidade do local, mantendo a segurança necessária para a prática do esporte em epígrafe.

A ligação do empresário e proprietário do terreno com a AMVL é nula e não é reconhecida em nenhuma de nossas atas, nem pelos membros que a compõem. O fato do empresário e proprietário ter realizado o pagamento em cartório do registro da entidade, aconteceu de forma espontânea como doação, apenas com o objetivo de exploração comercial na área de sua posse.

A AMVL em reunião com seus associados, decidiu não assinar nenhum contrato entre as partes, por não ter voz ativa em suas decisões.

 

2º Tema abordado na Reunião da Câmara

Ao chegarmos no Pico da Cartuxa em um dia de voo, encontramos uma área totalmente queimada, com isso vimos a possibilidade de se criar uma nova rampa de decolagem, que ampliaria a área decolagem já existente e agregando uma nova rampa para novas direções de vento.

Em conversa com o proprietário, que foi muito solícito com a nossa demanda, falou que poderíamos sim, utilizar aquela área para este fim. Então, buscamos apoio na Prefeitura de Mariana que fez a doação da grama e nós associados da AMVL buscamos recursos para mão de obra e insumos para o plantio.  As áreas utilizadas pela associação para decolagem, foram limpas e gramadas com recurso próprio da entidade, ou seja, a grama da rampa Norte, doada pela prefeitura de Mariana e instaladas com recursos da AMVL.

Ao aguardarmos o período de enraizamento da grama para começarmos a usar o local, fomos surpreendidos com a construção de um chalé, pelo proprietário, no meio desta área, que inviabilizou qualquer decolagem naquele local.

Sentimo-nos totalmente prejudicados, pelos mais de 15 dias de trabalho para o plantio, gastos financeiros e cuidados com a grama.

Essa construção não somente inviabilizou essa área, ela também trouxe vários riscos a antiga rampa de decolagem

Hoje possui uma rampa de madeira para decolagem que se encontra imprópria para a prática do esporte depois da construção. O local se tornou inseguro para a prática do voo livre e altamente propicio a acidentes (como já ocorrido e presenciado por vários frequentadores daquele local) devido a construção do chalé provocar uma irregularidade nas posições do vento, tornando a área “rotorizada” e condenada pelos órgãos que regulamentam o voo livre no Brasil. Podendo provocar ainda o fechamento e queda do equipamento que sobrevoar a baixa altura nessa região. Trazendo risco de morte aos praticantes do esporte.

Segundo informações divulgadas no vídeo da reunião da Câmara, outros chalés serão construídos, tornando assim, o Pico da Cartuxa totalmente inviável para a prática do voo Livre. Em algum momento foi discutido sobre a segurança que a área deve oferecer para a prática do voo livre.

O voo livre é um esporte com características próprias onde não se aceita a palavra adaptação, é preciso de vários fatores que se combinem para termos uma eficiência satisfatória na sua realização e Mariana pode se tornar um dos principais destinos do Brasil. Os ventos, a temperatura e condições do terreno, precisam estar em harmonia, para que sua prática venha trazer um resultado satisfatório e dentro dos padrões de segurança estabelecidos. Qualquer intervenção, em uma área de decolagem de qualquer rampa, que não venha ser discutida seus efeitos com os pilotos dos locais, compromete a segurança total do esporte. Aos poucos, o Pico da Cartuxa vem se tornando impróprio para a prática do voo livre, devido essas intervenções.

A Confederação Brasileira de Voo Livre (CBVL), federação essa que controla a prática do esporte no Brasil, só reconhece uma rampa apta para prática do esporte, quando a mesma possuir uma entidade regulamentada e com seus membros capacitados nas tomadas de decisões, que cada local proporciona, devido a suas características individuais, como a AMVL.

A AMVL é uma entidade séria e competente em suas atribuições, para manter seu estatuto íntegro e continuar sendo reconhecida pelas entidades competentes como a CBVL, que parabenizou nossos trabalhos, nos reconhecendo como entidade padrão a ser seguida.

Caso o Pico da Cartuxa não consiga manter o grau de segurança nas suas decolagens e se mantiver as intervenções na sua infraestrutura original, a AMVL abrirá mão desse direito de exploração do espaço aéreo, por reconhecer que o local não terá condições de ser administrado por terceiros que não possuem conhecimentos técnicos suficientes para o controle das decolagens em solo e no gerenciamento dos equipamentos sobrevoando o seu entorno.

O registro do espaço aéreo (NOTAM) conseguido pela AMVL junto a ANAC  (Agência Nacional de Aviação Civil) de nossa região colocou o Pico da Cartuxa na agenda de pilotos internacionais, por garantir livre acesso as vias aéreas, desviando as aeronaves da área que nos foi delegada.

Somos detentores por Lei, do direito de explorar o espaço aéreo do Pico da Cartuxa, são poucas rampas no Brasil que o possui, menos de 10% das entidades conseguiram formalizar esse documento. Depois de conseguirmos essa autorização que nos garante uma total segurança na prática do voo livre em nossa região.

A AMVL, não reconhece nesse momento, o Pico da Cartuxa como um local seguro para a prática do voo livre, e não se responsabiliza por qualquer acidente que venha ocorrer entre seus associados ou terceiros, uma vez que repudia qualquer decolagem naquele local, até que, as intervenções que aumentam nosso grau de risco na prática do esporte, voltem ao nível de segurança que pregamos e acreditamos que o esporte nos oferece quando respeitamos o que precisa ser feito.

Em momento algum, as áreas geradoras de renda do proprietário foram afetadas com essa desapropriação, inclusive, quando a associação teve conhecimento, solicitou que essas áreas geradoras de renda, (como a área das antenas e um bar construído no topo da área de preservação permanente) não fossem afetadas.

Fomos apresentados pela Prefeitura de Mariana, o projeto para o Pico da Cartuxa (Projeto este baseado em um pré-projeto enviado pela AMVL). Neste projeto não estão inclusos como área de desapropriação o bar e as antenas, que são fontes de renda para o proprietário.

3º - Áreas de pouso

Segundo levantado por um vereador e divulgado no vídeo da reunião da Câmara, nenhum proprietário do local de pouso, como o de Bandeirantes, (que por sinal sempre foi parceiro dos pilotos) onde foi realizado o último evento na cidade de Mariana, em nenhum momento se torna necessário a sua desapropriação, pois no centro histórico temos uma área municipal própria. Esta área já possui projeto definido, onde foram feitas todos os ajustes e alterações necessários para a segurança dos pilotos com a supervisão da AMVL.

O futuro do voo livre em Mariana está diretamente ligado a área de desapropriação.

A AMVL possui um projeto de tornar a cidade de Mariana como foco do turismo esportivo e cultural. Poucas cidades no Brasil possuem uma rampa regularizada com pouso no centro histórico. Toda a cadeira de negócios da cidade, desde hospedagem, alimentação e até diversão, serão impactados positivamente.

Diante do exposto acima, solicitamos o direito de manifesto na Câmara Municipal, para esclarecimentos dos fatos e explanarmos sobre as condições técnicas do esporte, bem como e a visão da associação com o futuro do esporte nessa cidade, uma vez que não recebemos o convite para participarmos da reunião ocorrida no dia 10 de agosto passado.

 

Atenciosamente,

 

Associação Marianense de Voo Livre – AMVL

Presidente

 


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