Tudo como dantes no quartel de Abrantes


23/07/2024 às 14h59

Tem muita gente agoniada aqui na gaveta com essa possível aliança entre os principais pré-candidatos a prefeito de Mariana. Essas alianças não têm surpresa nenhuma, sempre aconteceram em Mariana. Em meus arquivos implacáveis, tem um artigo do saudoso jornalista Ozanan Santos que ilustra muito bem essas alianças que antes pareciam impossíveis, mas foram concretizadas no decorrer da história política de Mariana.

 

Colocar todos no mesmo balaio é uma forma de agradar gregos e troianos, assim não há derrotados. Precisamos pensar em nossa Mariana. O tapete vermelho foi estendido para Juliano na fazenda do povoado do Castro de Zezinho Salete, na noite de segunda-feira (23), as conversas foram produtivas, segundo apuramos, agora uma segunda reunião acontecerá para os ajustes finos e acordos.

 

Em ambos os lados, alguns poucos estão esperneando, falando que foi traição e que não foram consultados sobre essa aliança. Por outro lado, essa aliança Zezinho X Juliano ou vice-versa abre uma oportunidade para a Federação de esquerda lançar a candidatura com Cristiano Vilas Boas (PT) e outro partido solo com Deyvson Ribeiro (União Brasil), que não aceitam um palanque eclético como está se formando.

 

Memoria Política

Tudo começou no inicio do século XX quando dois políticos importantes da influente Família Gomes Freire, um médico e outro advogado, Celso Arinos Motta politicamente divergentes entre si, criaram as duas tradicionais agremiações partidárias, na época, denominadas Piolho (Esquerda) e Percevejo (Direita).

 

Durante quase todo o século XX, Mariana experimentou uma intensa rivalidade política entre Direita e Esquerda, marcada pelo fanatismo e lealdade partidária. Mudanças significativas ocorreram a partir de 1970, quando João Ramos Filho rompeu com o Dr. Celso Arinos Motta, líder da Esquerda por mais de 30 anos, e assumiu a liderança. Em 1972, os irmãos Salim Mansur, líderes da Direita, apoiaram João Ramos, que venceu as eleições municipais e se tornou prefeito.

 

Ramos teve várias rupturas políticas, incluindo com Jadir Macêdo, seu sucessor da Esquerda. Em 1982, Macêdo apoiou Roque Camêllo, da Direita, mas Ramos venceu novamente e governou até 1988. Em 2000, João Ramos tentou se candidatar novamente, mas foi impedido pela Justiça Eleitoral, resultando na vitória de Celso Cota, da Esquerda. Posteriormente, Cota derrotou Ramos na disputa pela reeleição.

 

Essas sucessivas rupturas mudaram drasticamente o cenário político de Mariana, substituindo o tradicional antagonismo Direita-Esquerda por uma divisão entre "ramistas" e "antiramistas". Desde 2004, alianças inesperadas surgiram, como a de Celso Cota com Roque Camêllo, que governaram juntos até 2008. Em 2009, a Direita lançou Roque Camêllo como prefeito com Zezinho Salete, da Esquerda dissidente, como vice, vencendo as eleições.

 

O tradicional bipartidarismo em Mariana só começou a desmoronar definitivamente quando Celso Cota, ao ganhar as eleições para prefeito no período de 2001 a 2004, rompeu politicamente com João Ramos Filho. Desse rompimento surgiu então a Esquerda tradicional e a Esquerda dissidente.

Nas eleições municipais de 2008, disputaram o pleito não só a Esquerda tradicional por intermédio de Terezinha Ramos que substituiu João Ramos por causa de seu assassinato, como a Esquerda dissidente que apoiou o candidato da Direita, Roque Camêllo, que saiu vitorioso nas urnas. Quebrando a tradição histórica da disputa eleitoral bipartidária, surgiu então um terceiro candidato oriundo da Esquerda, Duarte Junior, apoiado por Cássio Brigolini Neme oriundo da Direita, além da participação de mais dois candidatos de partidos nanicos.

 

Desde 2004, alianças inesperadas, como a de Celso Cota (Esquerda) e Roque Camêllo (Direita), mudaram a dinâmica da política. O futuro político de Mariana é incerto e depende da continuidade dessas novas alianças.

 

No cenário atual para quem conhece e acompanha a política de Mariana não há novidade nenhuma.


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