Índice de domicílios conectados à rede de esgoto em Mariana é menor que a média do estado

Lançamento de esgoto sanitário in natura em cursos d'água é proibido por lei. Veja o flagrante na conhecida "Ponte do Geós" em Mariana. (Foto-TerritórioPress)

Por outro lado, 89,53% das residências marianenses são abastecidas pela rede geral de água, contra 87,89% na média estadual

15/03/2024 às 15h38

 

Um recorte dos dados do Censo Demográfico 2022, divulgado no último mês pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revela que o índice de domicílios conectados à rede de esgoto em Mariana (78,37%) é inferior à média do estado de Minas Gerais (80,73%). O crescimento não planejado do município dificulta a estrutura da distribuição do esgotamento sanitário, e também, do abastecimento de água.

 

Em relação ao abastecimento de água, o IBGE informa que em Mariana, 89,53% das residências são abastecidas pela rede geral de água, porém, isso não garante que todas tenham acesso pleno ao abastecimento. Bairros e distritos mais afastados da área central chegam a passar semanas sem acesso à água. Nas regiões mais altas, por exemplo, o sistema de abastecimento não possui pressão suficiente para chegar até as caixas d’água.

 

Foto: João B. N. Gonçalves

Existe uma lacuna entre o serviço oferecido aos moradores da área central de Mariana e aos de áreas periféricas e ocupações. O morador do Centro Histórico, Davi Goldfeder, 23 anos, relata que o abastecimento é eficaz, sendo raro faltar água nas torneiras de sua casa, enfrentando problemas esporádicos e de rápida resolução. Para o jovem, a coleta de esgoto também atende às necessidades.

 

Morador do bairro Santo Antônio (Prainha), Wilson Chaves, 47 anos, conta que apesar da abundância de água em Mariana, a população de seu bairro sofre com a falta d’água e com um esgotamento sanitário deficiente. “Mariana é um lugar rico em água. Se você cavar no fundo do quintal da sua casa, você acha água. Não poderia faltar na nossa torneira, mas se começar a faltar água na quinta-feira, fica sem até domingo”, afirma.

 

Wilson Chaves realiza um trabalho em Mariana, no qual visita os bairros, apontando os problemas relatados pela população e fazendo cobranças ao poder público. Ele reforça que é comum ouvir reclamações dos moradores das periferias: “Há desafios nas ocupações de Mariana, que sofrem muito com a parte de saneamento básico e do esgoto. Na Vila Serrinha, não tem saneamento básico. No Santa Clara, mesma coisa, não tem saneamento básico e também não tem água. No Santo Antônio também, desce para a Morada do Sol é a mesma coisa”, declara.

 

O diretor do Sistema Autônomo de Água e Esgoto (SAAE), Valdeci Fernandes, explica que muitos dos problemas relacionados ao abastecimento e à coleta de esgoto estão relacionados ao crescimento desordenado do município. “Mariana é uma cidade antiga, que não foi planejada. Começou com fossas e galerias feitas com pedras, que com o passar dos anos foram interligadas”.

 

Ele ainda diz que o grande problema de Mariana é a ausência de um separador absoluto — um sistema que coleta a água em uma tubulação e a despeja no curso d’água, enquanto o esgoto sanitário é coletado em uma tubulação de esgotos e levado para a estação para tratamento antes de ser lançado em cursos d’água. “Como Mariana não foi planejada, detecta-se muito esgoto na pluvial e muito pluvial na rede de esgoto”, diz.

 

O diretor do SAAE comenta sobre a diferença nos serviços de abastecimento e coleta. Ele destaca que por conta da irregularidade de muitas residências, as áreas de ocupação e as partes altas, como os bairros Santa Rita, Vila Serrinha, Cartuxa, e os distritos de Padre Viegas e Águas Claras, se caracterizam como as mais difíceis de se levar água e esgotamento sanitário no município.

 

Valdeci ressalta que o mau planejamento na construção da rede de esgoto da cidade exige esforços, incluindo a implementação de interceptores para melhorar a coleta. “Estamos fazendo interceptores na cidade, e tentando nos adequar ao máximo para fazer uma boa coleta e tratamento de esgoto na cidade. Acredito que no próximo ano já começa a ter a estação de tratamento de esgoto”, declara.

 

Segundo os dados do IBGE, mais de 80% dos domicílios têm acesso à rede geral de água, mas o desperdício de água impede que esse número cresça. “Temos um desperdício muito grande de água na cidade, o volume de água que chega Mariana, dava tranquilamente para atender a população. O desperdício é grande, a gente não consegue suprir a necessidade das partes altas da cidade”, afirma Valdeci Fernandes.

 

Para o diretor, é necessário um controle mais eficiente do desperdício e o SAAE está implementando medidas para controlá-lo, incluindo a hidrometração da cidade para um melhor monitoramento do consumo nas residências. “A gente percebe que o desperdício é muito grande, muitas casas têm vazamentos internos, e às vezes nem se sabe. Só vamos descobrir isso com a micromedição e instalando os hidrômetros nas casas”.

 

REURB: A regularização como uma solução

O Programa de Regularização Fundiária Urbana (REURB) compreende o cadastro de habitações irregulares, realizando um levantamento das condições dessas residências e identificando as demandas dos moradores. Por meio desse diagnóstico, são planejadas medidas para regularizar as moradias, uma estratégia para encontrar soluções para assegurar o acesso dessas pessoas às redes de esgoto e água.

 

Valdeci Fernandes destaca a importância do programa como parte integrante dos esforços para melhorar a infraestrutura da cidade: “O prefeito (Celso Cota) está implantando o REURB, onde vai legalizar essas áreas de ocupação, fazer o arruamento e levar infraestrutura para essas regiões, ou seja, levar rede de água e esgoto.”

 

Wilson Chaves enfatiza a importância do REURB para melhorar o abastecimento de água. Ele afirma: “O poder público prometeu para o povo de Mariana, que com o REURB irá urbanizar as ocupações e os bairros. Principalmente, as ocupações, para fazer chegar saneamento básico, iluminação pública e água tratada nessas áreas”.

 

O REURB já contabilizou cerca de 5 mil residências em situação irregular no município, dividias por diversas regiões (Morro Santana, Morada do Sol, Vila Serrinha, Rosário, Cristal, Cartuxa, Vale Verde, São Gonçalo, Santo Antônio, Santa Rita de Cássia). Com o programa em andamento, há uma expectativa de que Mariana possa superar seus desafios históricos em termos de infraestrutura de água e esgoto.

Reportagem de João B. N. Gonçalves e Hynara Versiani


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