Enchente no Córrego do Catete expõe negligência e ameaça moradores em Mariana

Foto: TerritórioPress/RobertoVerona

Após chuva intensa, córrego transborda, invade ruas e causa prejuízos; relatório de 2011 já alertava para os riscos de colapso e necessidade urgente de intervenção.

06/01/2025 às 08h37

 

Córrego do Catete: a bomba-relógio escondida tá avisando que vai explodir

A chuva que caiu no final da tarde de domingo, 5 de janeiro, foi suficiente para tirar o Córrego do Catete do seu leito e invadir a pista, causando grandes prejuízos a comerciantes e moradores. O episódio, infelizmente, escancara um problema antigo e negligenciado: a precariedade do canal que conduz o córrego que foi ocupado de forma irregular.

 

 

O Canal do Córrego do Catete, com cerca de 760 metros de extensão, representa uma ameaça não apenas ao meio ambiente, mas também à segurança da população. Um relatório técnico elaborado em julho de 2011 pela empresa Recuperação Serviços Especiais de Engenharia já alertava para os riscos de colapso e enchentes, descrevendo a estrutura como uma "bomba-relógio" que pode explodir a qualquer momento se nenhuma intervenção for realizada.

 

O problema estrutural: improvisação e risco

De acordo com o relatório, o canal foi construído sem projeto técnico adequado. O que se encontra é um leito natural, sem laje de piso, com paredes compostas por uma miscelânea de materiais, como gabião, pedra argamassada, tijolos cerâmicos e concreto ciclópico. Em alguns trechos, lajes de teto improvisadas — muitas vezes partes de edificações sobrepostas ao canal — já apresentam patologias graves, como armaduras expostas, fissuras e risco de desabamento.

 

Além disso, o canal apresenta:

  • Obstruções constantes devido ao acúmulo de lixo e assoreamento.
  • Falta de uniformidade no fluxo, causada pela ausência de declividade regular.
  • Estruturas precárias, como vigas e pilares construídos sem padrão técnico.
  • Trechos cobertos inseguros, que dificultam inspeções e operações de emergência.

 

Arquivo

Impactos urbanos e ambientais

A ocupação irregular sobre o canal tornou a situação ainda mais crítica. Casas e comércios foram erguidos diretamente sobre a estrutura, aumentando o risco de desastres em dias de chuva intensa, como a ocorrida no último domingo. O lixo acumulado no córrego compromete o escoamento da água, agravando o perigo de enchentes que invadem ruas e causam prejuízos materiais e emocionais.

No aspecto ambiental, o encontro do Córrego do Catete com o Rio do Carmo serve como ponto de descarte de resíduos e sedimentos, poluindo as águas e prejudicando a fauna e a flora locais.

 

Conclusões e recomendações do relatório

O relatório técnico de 2011 foi claro: não há possibilidade de recuperação estrutural do canal em seu estado atual. A única solução viável seria a elaboração de estudos aprofundados de drenagem para:

  1. Redefinir a geometria do canal, garantindo segurança e funcionalidade.
  2. Viabilizar desapropriações, caso necessário, para adequar a área de drenagem.
  3. Promover intervenções urgentes, para evitar desastres causados por chuvas intensas.

 

Uma tragédia anunciada

Mais de uma década após os primeiros alertas, as autoridades ainda não agiram para resolver o problema. Cada novo temporal reforça o perigo de um desastre maior, que pode colocar vidas em risco e trazer prejuízos irreparáveis à cidade.

O Córrego do Catete não é apenas um problema estrutural; é um símbolo da negligência com a infraestrutura urbana. Enquanto nada é feito, ele segue como uma bomba-relógio, esperando o próximo temporal para cobrar o preço da inércia do poder público.

 

 


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