A importância do olhar da família aos primeiros sinais da esquizofrenia.


Dia 24 de maio foi o Dia Mundial da Pessoa com Esquizofrenia.

26/05/2022 às 21h28

A  esquizofrenia é um transtorno que requer tempo para o fechamento do seu diagnóstico. Isso se dá, porquê as suas múltiplas nuances confundem com outros transtornos que tem em si, muitos sintomas semelhantes. O principal deles é a perda da realidade. A mente da pessoa torna-se dividida entre o que é o real e o imaginário. É como se ele tivesse em dois mundos distintos.

Por isso ao observamos algumas mudanças abruptas aos padrões de comportamento em pessoas próximas, possamos saber como agir, evitando perder tempo em procurar ajuda profissional nos centros de referência especializados, como por exemplo CAPS.

Quanto mais cedo a descoberta do diagnóstico, mais chances da pessoa ter uma vida  tranquila, já que dependendo do tempo, as sequelas produzidas pela falta de tratamento durante as crises, acabam acarretando severas perdas cognitivas, sociais, emocionais e físicas. 
A esquizofrenia é um transtorno que além de trazer  sofrimento ao próprio portador, causa também um desgaste emocional aquele familiar que está ao seu lado, podendo este também   entrar em   processo de adoecimento, devido a dificuldade de lidar com a doença e as incertezas causadas por ela.

A esquizofrenia se subdivide em alguns grupos, mas não é a intenção falar sobre cada um, mas estarmos atentos as mudanças de comportamentos que se encaixem na esquizofrenia propriamente dita.

Com o avanço da medicina, hoje podemos recorrer com sucesso aos tratamentos a base de fármacos para estabilização da pessoa. Esses fármacos são prescritos pelo profissional da psiquiatria, que tem todo o conhecimento necessário para prescrever aquele que mais se adequa a cada paciente. 
Podemos contar também com ajuda terapêutica, através psicólogos ou algum outro profissional da saúde que possa fazer o acolhimento e escuta deste sujeito. 
A partir daí o acolhido poderá ser inserido em oficinas terapêuticas para que ele tenha momentos de produção de suas idéias, tornando uma ótima oportunidade de socialização e escuta.

Apesar de todos os esforços pelos profissionais da saúde envolvidos no tratamento da pessoa com esquizofrenia, sem dúvida o mais importante é o papel da família na busca de compreensão dos sintomas da doença e o estabelecimento de um vínculo de confiança junto a pessoa para a efetivação do tratamento, já que no quadro da esquizofrenia isso é algo a ser conquistado com muito amor, paciência e dedicação.

É bom salientar que neste transtorno quando ainda o quadro não está estabilizado a pessoa acredita que está sendo enganado, traído pelos familiares, principalmente no que tange a questão medicamentosa, eles  acreditam que a medicação é algo prejudicial e até mesmo a casos que pensam que podem estar sendo envenenados.
Apesar dos  sintomas variarem  muito de pessoa para pessoa é importante ficarmos atentos as mudanças que vão desde um quadro aparente de depressão até quadros de delírios  e  alucinações.

Dentre alguns pontos a serem observados, podemos destacar:

•    perda de prazer em atividades rotineiras , como por exemplo estudar, sair, conversar, praticar exercícios físicos e relacionar-se de forma geral 
•    os portadores da esquizofrenia tendem isolar-se literalmente, passando horas e até dias dentro de um quarto.
•    outras mudanças a serem observados são os  hábitos alimentares, onde a pessoa passa a não comer   ou comem  em excesso.
•    A higiene pessoal  pode  ficar bastante  prejudicada em muitos  casos, recusando a tomar banho, trocar de roupa, escovar os dentes. Fazer a higiene básica pode se tornar uma grande dificuldade.
•    Alguns com tendência religiosa , passam a ficar   horas  ajoelhados rezando , acreditam ser Jesus, acreditam ser profetas e até mesmo o espírito santo, ou algum outro  enviado de Deus. Quando falamos neste contexto religioso é importante observar o aumento excessivo e a frequência com que esses comportamentos  ocorrem. 
•    Acreditam que tem uma missão a ser cumprida  como agentes secretos, espiões  dentre outros. Exemplo disso  é o famoso filme  “Uma Mente Brilhante” do diretor Ron Howard onde o personagem John Forbes Nash, interpretado por  Russell Crowe acredita ser um agente secreto que tem um papel importante no desfecho de uma conspiração. 

•    A dificuldade em dormir é um quadro bastante típico, podem ficar inquietos e irritados  durante o período noturno.
•    As falas produzidas pela pessoa  em muitos casos, se tornam descontextualizadas, desconexas, muitas vezes sem sentido, dificultando o entendimento de quem os ouve, isso devido a  dificuldade de manter uma lógica do pensamento.
•    afetos antes demonstrado como carinho, amor e dedicação coisas simples do  cotidiano, passam a se tornar precários, como se a pessoa  perdesse os afetos, não apresentando mais esses sentimentos tornando-se apático e embotado. Talvez essa seja uma das características mais difíceis para família porque esse distanciamento e  estranhamento que antes não existiam tornam-se frequentes e essa relação se desfragmenta, podendo causar um sentimento de culpa e impotência por parte do familiar.
•    Devido as alterações dos sentidos, alguns pacientes passam a dizer que sentem gostos e cheiros estranhos nos alimentos e por vezes, costumam cheirá-los, recusando a comer ou tentando identificar alguma coisa que esteja errada. Além dessas alterações gustativas e olfativas, apresentam também alterações auditivas, escutando vozes de pessoas chamando ou mesmo dando ordens de comando, alguns escutam barulhos de pássaros cantando, sons musicais e  outros ruídos  fora do habitual.
•    Nas alterações visuais muitos pacientes relatam ver vultos, demônios, Jesus, objetos em suas mais variadas formas, tamanhos e cores, pontos brilhantes dentre outras visões. 
•    Algumas pessoas começam a apresentar comportamentos agressivos, ideações suicidas, risadas involuntárias sem motivo aparente.
•    Apresentam insegurança por imaginar estar sendo perseguidos por algo ou alguém. 
•    Outro ponto bastante importante é que começam a ficar com um olhar fixo, olhando sempre para uma mesma posição ou objeto. É um olhar que transpassa quando direcionado ao outro. Um olhar que parece ter perdido o brilho.

Existem vários outros sintomas que poderiam ser destacados, mas o que importa mesmo é observar que algo está estranho, que está diferente de antes e que o seu familiar já não é mais o mesmo.

Quando percebermos essas mudanças, o que pode ser feito?

Primeiramente tentar convencer o familiar a buscar ajuda necessária, caso  não queira em hipótese alguma ou ofereça resistência, o que é bastante comum nestes casos, é importante que a família  procure anotar com clareza de detalhes tudo aquilo que vem observando de mudanças no seu familiar e  procurar  o CAPS (Centro de Atenção Psicossocial ) em tempo hábil.

No CAPS a família receberá as orientações necessárias durante o acolhimento para saber como intervir junto ao seu familiar.
É importante ressaltar que se a pessoa estiver em um surto psicótico, demostrando sinais de confusão mental, delírios, alucinações e agitação, a família  deverá ligar para o SAMU(192) ou para a Guarda Municipal (153), descrevendo o que está acontecendo. Procurar manter a calma e o equilíbrio nesse momento é fundamental.
Por mais difícil que pareça ser este transtorno, deve-se sempre lembrar que existe tratamento e que sua manutenção através de fármacos e profissionais especializados  poderão garantir uma melhor qualidade de vida para a pessoa.

Autora : Mariléia Marques Verona (Psicóloga)


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