'A Samarco tem sido extremamente flexível'

Luiz Fabiano Saragiotto, diretor de reestruturação da Samarco (foto: Marcus Desimoni/Nitro Imagens)

Luiz Fabiano Saragiotto, diretor de reestruturação da Samarco, fala sobre dificuldades em processo de negociação e perspectivas

18/04/2022 às 13h30

A assembleia geral de credores da Samarco, em recuperação judicial desde abril de 2021, ocorrerá nesta segunda-feira (18/4) sem que a companhia tenha chegado a um consenso sobre o plano de reestruturação da sua dívida. O maior impasse está nas negociações com grandes fundos internacionais que compraram os títulos da dívida da empresa depois do rompimento da Barragem de Fundão com o objetivo de obter lucro. Esses fundos internacionais, conhecidos como fundos distressed, são investidores especializados em títulos de dívidas de empresas em dificuldade financeira.

Às vésperas da assembleia que deve votar pela aprovação ou reprovação da proposta de recuperação judicial apresentada aos credores, o diretor de reestruturação (chief restructuring officer ou CRO) da Samarco, Luiz Fabiano Saragiotto, falou sobre as dificuldades ao longo do processo de negociação e as perspectivas para a empresa. 

 

Por que a Samarco ainda não conseguiu chegar a um acordo com os fundos internacionais? 

A Samarco tem sido extremamente flexível, e isso tem ficado claro nas negociações e nas assembleias realizadas até o momento, especialmente em relação à última proposta apresentada aos fundos distressed, investidores especializados em títulos de dívidas de empresas em dificuldade financeira. Com as melhorias implementadas no plano proposto, conseguimos avançar nos principais pontos solicitados não só por esses investidores, mas também por outros credores, empregados e fornecedores. Ao longo do processo de negociação, os fundos distress muitas vezes mudaram de posição em pontos que entendemos já terem sido acordados, o que denota uma postura inconsistente e intransigente e de pouco interesse em chegar a um acordo que atenda todas as partes. De nossa parte, seguimos empenhados e acreditando em um acordo justo, viável e que atenda aos interesses de todas as partes envolvidas. Claro que isso encontra limites, não podemos colocar em risco a sustentabilidade das nossas operações em curto, médio e longo prazos, e nem abrir mão dos compromissos inerentes à função social da companhia. 

Quais são os principais pontos do impasse?

Basicamente, o interesse de um grupo seleto de investidores estrangeiros, que concentram uma fatia relevante da dívida da empresa, parece ser o de buscar o recebimento integral de seus créditos, em detrimento dos demais credores que fizeram e continuam a fazer um grande esforço que permitiu a manutenção de nossa estrutura e a retomada da operação. Esses fundos distressed, que compraram esses créditos após o rompimento da Barragem de Fundão com valores abaixo dos originais e não apoiaram a nossa longa caminhada de retomada, exigem um pagamento que vai muito além da capacidade financeira da companhia. Eles agem como se tivessem garantias que nunca tiveram e, por terem maioria de poder de voto nas deliberações da assembleia de credores, veem-se no direito de impor suas vontades, colocando em risco a capacidade da companhia de operar, de investir e de cumprir com as obrigações sociais e de reparação. 

Mas os credores têm afirmado que a Samarco insiste em apresentar proposta amparada em projeções conservadoras e muito abaixo da capacidade da empresa, o que seria uma maneira de beneficiar os acionistas controladores. A Samarco fez avanços concretos para evoluir na negociação? 

A afirmação não procede. A Samarco fez avanços concretos na proposta oferecida aos credores financeiros, sendo coerente com uma postura que adotamos durante todo o processo que foi de diálogo e negociação. Evoluímos de forma concreta para atender às reivindicações dos credores encontrando uma maneira de contemplar os pedidos, respeitando os nossos limites financeiros e nosso fluxo de caixa. Conseguimos negociar um importante apoio de nossos acionistas, que ofereceram, como parte desta proposta, abrir mão de receber parte de seus créditos e concordaram em aportar relevantes recursos na Fundação Renova, liberando nossa geração de caixa para nossas operações e para pagamentos de outros credores. Os acionistas também ofereceram honrar as nossas obrigações de aporte na Renova no caso da nossa geração de caixa ser insuficiente. Essas propostas trouxeram previsibilidade às nossas projeções e permitiram-nos oferecer aos credores financeiros, terceiros e acionistas, receber parte dos repagamentos via um instrumento de dívida com juros e vencimentos pré-definidos com liquidez no mercado secundário. Tudo para atender às solicitações feitas por esses fundos distress. 

O que mudou no plano de negócios da Samarco?

A Samarco vem cumprindo rigorosamente seu plano de negócios com uma retomada gradual da produção, começando pelos 26% atuais e atingindo 100% até 2029, sempre observando as melhores práticas sociais, ambientais e de segurança. Estruturamos nossas projeções a partir de análises validadas por especialistas independentes e times técnicos dos acionistas, atendendo a todos padrões ambientais e com premissas comerciais baseadas em mais de 18 provedores de preços de mercado, os quais garantem a solidez desse planejamento. Também avançamos em um acordo entre Vale e Samarco buscando melhorar as condições de implementação desse plano, permitindo a antecipação da retomada de 100% da produção, entre outros ganhos. Além disso, o acordo global contempla avanços como a criação de alternativas adicionais à destinação de rejeitos, venda de material estéril (material residual) e aumento das sinergias da nossa infraestrutura a longo prazo.

 

Quais serão os próximos passos para se chegar a uma reestruturação de dívida bem-sucedida? O fato de não conseguir chegar a um acordo ou de a assembleia ainda não ter sido finalizada impactará o avanço na retomada de operações da empresa?

A Samarco acredita na proposta de plano apresentada que contempla o interesse de todas as partes, permitindo o desenvolvimento de suas atividades produtivas e a manutenção de sua função social. Seguimos abertos a uma negociação com transparência, sempre apresentando a melhor proposta possível diante do nosso plano de negócios e inerentes limitações. Também estamos preparados para defender as nossas operações e tomar as medidas judiciais apropriadas para prevenir condutas abusivas e propostas que inviabilizem ou ameacem o avanço de nossa retomada gradual.

Fonte: https://www.em.com.br/


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