Fundadora de projeto social que acolhe crianças com câncer relata constrangimento em loja do Burger King em BH


04/04/2022 às 17h46

"Você tudo bem. Mas não sei dessas outras pessoas". Foi essa a frase que, segundo o relato da administradora Renata Medeiros à reportagem do g1, foi dita na quarta-feira da semana passada por uma gerente da unidade do Burger King, no Shopping Boulevard, em Belo Horizonte.

As "outras pessoas" mencionadas pela gerente eram seis crianças e adolescentes entre 11 e 15 anos e as respectivas mães. As crianças passam por tratamento contra o câncer e fazem parte de um projeto social fundado por Renata.

O intuito era comemorar o aniversário dela. "Convidei as crianças para passarem uma tarde comigo. Quando perguntei o que queriam fazer, elas disseram que queriam ir ao shopping e comer sanduíche. Muitas delas nunca tinham feito isso", conta.

Mas a tarde, que deveria ser de comemoração e lazer, não saiu totalmente como planejado. Segundo Renata, a frase dita pela gerente foi uma resposta após ela ter informado que sabia as regras para pegar refrigerante - nas unidades da rede, é possível encher o mesmo copo mais de uma vez nos 30 minutos seguintes à compra.

"Eu estava na fila e peguei o sanduíche. Chamei duas crianças para pegar os refrigerantes comigo e, quando voltei para a mesa, ela (a gerente) estava implicando com as mães. 'Eu tô aqui para avisar, se você não sabe, que o consumo é livre durante 30 minutos'. Eu falei que já sabia. E aí ela disse: 'você tudo bem, mas não sei dessas outras pessoas'".

Na hora, conforme disse a administradora ao g1, as mães abaixaram a cabeça diante do constrangimento. "Eu falei para ela que eram pacientes em tratamento, que tomam quimioterapia e que não conseguiriam nem tomar um copo todo. Ela falou que eles poderiam acabar o refrigerante da máquina". E esse não foi o primeiro episódio vivido pelo grupo naquele dia.

Antes desse momento, a Renata denuncia que a gerente já havia sido rude. "Logo quando chegamos, eu fui para a fila fazer o pedido, e as mães resolveram juntar as mesas para ficarem todos juntos. E a gerente chamou a atenção delas. Quando vi que tinha uma funcionária conversando, eu saí da fila e fui ver o que estava acontecendo", conta.

Após perguntar o que havia acontecido, Renata afirma que a gerente da lanchonete disse que aquilo era "uma falta de respeito" e que o grupo não poderia ter juntado as mesas sem consultá-la. "Ela disse que ali não era a casa delas", completou.

Renata conta que se desculpou pelo ocorrido e que, mesmo assim, a profissional teria sido grossa e afirmado que eles "já tinham feito bagunça" e que, por isso, poderiam manter as mesas juntas.

Bolo de aniversário

Em outro momento, a administradora diz que, para evitar mais problemas, foi consultar a gerente para saber se era possível cantar parabéns dentro do estabelecimento - o grupo levou um bolo para celebrar o momento.

"Ela estava perto de mim, de costas. Eu chamei três vezes e ela não virou. Aí eu falei que se ela não virasse, eu ligaria para a Polícia e chamaria a imprensa, porque aquilo não passaria batido". De acordo com Renata, foi somente depois disso que a gerente virou e respondeu. "Depois de tudo o que vocês já fizeram, podem fazer o que quiser, a casa é de vocês", disse a profissional).

 

Além do constrangimento para as mães e para as crianças, a situação deixou a administradora bastante chateada. Ela conta que após o ocorrido um outro funcionário atendeu o grupo de forma simpática e, na saída, pediu desculpas pelo ocorrido. "Mas ela, em nenhum momento, se desculpou", lamenta.

No dia seguinte, ela relatou o ocorrido nas redes sociais e recebeu o apoio de muitos internautas.

"A gente vive na cultura do cancelamento. Minha intenção não é cancelar o shopping ou a rede de lanchonetes. Minha intenção é que eles tratem as pessoas de forma igual. Para muitas crianças aquilo era a realização de um sonho. Lidamos com crianças e famílias que precisam de cesta básica, de suplemento alimentar, roupa e chinelo".

 

Desculpas

 

Ela explica que quer um pedido de desculpas por parte da profissional. "Não tenho intenção de prejudicar essa moça. Mas eu só queria que ela pedisse perdão para essas crianças. É só isso. Se tivesse palestra educativa para funcionários sobre a condição dessas crianças... tem gente que acha que câncer pega e é triste saber disso". A administradora não tem intenção de registrar um Boletim de Ocorrência sobre o caso.

"As crianças menores não entenderam o que estava acontecendo. As adolescentes ficaram chateadas. Para as mães foi bem pesado. Elas já lidam com a escassez, com a enfermidade, com o fato de não saber o que vai acontecer com o filho. Para elas foi muito triste".

 

Segundo Renata, após a repercussão do caso nas redes sociais, a equipe do shopping entrou em contato com ela e se desculpou. Ainda de acordo com ela, a administração do centro de compras informou que iria acionar a gerência-geral da rede de lanchonetes.

 

Respostas

Em nota, a assessoria do Burger King informou que "está apurando o caso mencionado para as devidas tratativas. O BK reforça que está sempre em busca de oferecer as melhores experiências aos consumidores e que, em seus restaurantes, todos são bem-vindos".

O Shopping Boulevard afirmou que repudia qualquer "atitude discriminatória e a abordagem relatada não condiz com a postura adotada pelo shopping, onde todos são bem-vindos". Informou também que a administração fez contato imediatamente com a cliente para ouvi-la, "acompanhando o caso de perto".

https://g1.globo.com/


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