A praça Gomes Freire, cartão postal de Mariana (MG), passou por obras de requalificação para melhorias na acessibilidade, iluminação e paisagismo. Durante as intervenções, por meio de um trabalho arqueológico inédito, foram identificados fragmentos de artefatos do século 18, além de evidências de estruturas da antiga história de abastecimento de água da cidade.
Os fragmentos descobertos permitem contar um pouco mais sobre comportamentos, costumes, religiões e as relações sociais e econômicas da população dos séculos passados, explica a especialista em arqueologia da Fundação Renova, Danielle Lima.
“A praça é o coração da cidade, espaço de lazer e palco de eventos culturais da região. O local sofreu várias intervenções ao longo do tempo, mas nunca houve uma pesquisa arqueológica ali. Esse foi um trabalho cuidadoso de pesquisa arqueológica, no qual conseguimos evidenciar e registrar com detalhes os fragmentos e todas as estruturas encontradas, evidenciando assim, a apropriação da comunidade no espaço ao longo do tempo”, diz Danielle Lima.
São fragmentos históricos que remetem a louças, vidros de tinteiros, cravos de ferro e até mesmo cachimbos de cerâmica, muito utilizado por escravos no início da ocupação da cidade, no século 18. Também foram recuperados uma variedade de moedas de vários períodos, provavelmente depositadas no chafariz em troca da esperança em desejos.
Objetos mais atuais como fragmentos de garrafas de vidro e pingentes de metais, contam sobre o atual uso da praça. Bolinhas de gude e cabecinhas de bonecas de porcelana mostram a ocupação do Jardim pelas crianças desde sempre como espaço de lazer.
Segundo o arqueólogo coordenador-geral das pesquisas arqueológicas na requalificação da praça Gomes Freire, Ângelo Lima, mesmo antes de o largo sofrer intervenções para ser transformado em praça, os marianenses utilizavam o espaço com intensidade. A grande quantidade e variedade de vestígios encontrados demonstram isso.
“Fragmentos de vasilhas de pedra sabão, louça e cerâmica, por exemplo, mostram que desde o século 18 as pessoas utilizavam a praça em momentos festivos para se alimentarem. Além das vasilhas quebradas que ficaram como testemunho dessa prática, ossos de porco, boi e frango também sobreviveram ao tempo. Cada pedaço deixado, perdido ou esquecido na praça pode agora reconstruir uma parte da história de Mariana e de Minas Gerais”, diz.
Estruturas identificadas
O trabalho realizado também identificou que o subsolo da praça é cortado por galerias de pedra, provavelmente utilizadas para o transporte de água para abastecimento das casas e também dos chafarizes do centro histórico.
As estruturas encontradas foram evidenciadas e registradas antes de serem desmanchadas para implantação de novas, e em alguns casos foi possível preservá-las intactas. Já os fragmentos descobertos serão devidamente catalogados, identificados e entregues ao Museu de Ciências Naturais da PUC Minas, em Belo Horizonte, onde ficarão guardados e disponíveis para futuras pesquisas.
Os trabalhos de prospecção e monitoramento arqueológico no Jardim, como é chamado pelos marianenses, foram permitidos, monitorados e aprovados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Melhorias na praça
A obra de requalificação da praça Gomes Freire, executada pela Fundação Renova é uma ação compensatória em decorrência dos danos provocados pelo rompimento da barragem de Fundão e faz parte dos compromissos firmados entre a Fundação Renova e a Prefeitura para aumentar o potencial turístico e socioeconômico da região.
As intervenções na praça respeitaram o valor histórico, simbólico e afetivo do local e permitiram melhorias na acessibilidade, iluminação e paisagismo.
As discussões coletivas e a participação popular foram prioridades nas decisões da praça, desde a concepção do projeto e, também, durante a execução da obra, com consultas públicas, audiências e visitas, além da aprovação de todos os órgãos envolvidos, a exemplo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e Prefeitura Municipal.
Passado e presente da praça Gomes Freire, em Mariana, são contados em série de vídeos
Conteúdo está disponível no YouTube e apresenta fotos e documentos do local também conhecido como Jardim
Ponto de encontro de marianenses e turistas, a praça Gomes Freire, localizada no centro de Mariana (MG), desde o século 18, passou por algumas transformações e foi ocupada de diversas maneiras. Para relembrar todos esses marcos e contribuir com a preservação do patrimônio cultural, a Fundação Renova está disponibilizando uma série de vídeos educativos sobre a praça no YouTube.
Ao todo, seis vídeos no formato de animação, com fotos e documentos, contam a história do espaço conhecido como Jardim, que, entre 2020 e 2021, recebeu melhorias de infraestrutura, reforma e restauro, preservando seu valor histórico, simbólico e afetivo.
Estes são os vídeos:
1. Conheça a história da praça Gomes Freire
2. Praça Gomes Freire ganha formas e novas construções
3. Mudanças na praça Gomes Freire, nos séculos 20 e 21
4. O uso da praça Gomes Freire ao longo da história da cidade
5. Praça Gomes Freire passa por requalificação urbana
6. Preservação histórica, simbólica e afetiva da praça Gomes Freire
Os episódios passam pelo século 18, quando a praça abrigava os cavalos das pessoas que se preparavam para entrar ou sair da antiga Vila do Carmo - atual Mariana -, que depois passou a ser conhecida como largo das Cavalhadas e era um espaço de lazer dos moradores e visitantes.
Os vídeos também mostram que, em 1900, a praça ganhou forma com um canteiro de desenhos geométricos e a construção do coreto, na mesma época em que começa a ser chamada de Jardim. Por fim, a série fala do atual uso coletivo do espaço por crianças, jovens, público LGBTQIA+ e turistas - e que requer cuidados para sua preservação.