CPI: mais um ex-diretor da Vale nega responsabilidade sobre tragédia em Brumadinho


Rodrigo Melo diz que Mina do Córrego do Feijão não tinha risco iminente de ruptura

16/05/2019 às 19h17

O ex-gerente-executivo operacional da Vale no complexo minerário Paraopeba (MG), Rodrigo Artur Gomes de Melo, foi ouvido pela CPI de Brumadinho, nesta quinta-feira (16). Ele tinha responsabilidade direta sobre o monitoramento da estrutura da barragem 1 da mina Córrego do Feijão, que se rompeu em 25 de janeiro, matando 238 pessoas e deixando 32 desaparecidas, segundo dados recentes da Defesa Civil de Minas Gerais.

A juíza plantonista Perla Saliba Brito, da Comarca de Brumadinho, decretou a prisão temporária de Rodrigo dois dias após a ruptura (ele ficou dez dias detido) e a força tarefa do Ministério Público que investiga as causas da tragédia recomendou seu afastamento da Vale desde 29 de janeiro. Rodrigo compareceu à CPI acompanhado do advogado Leonardo Sales, contratado pela mineradora, e declarou que, mesmo afastado do cargo, continua recebendo salário.

O senador Jorge Kajuru (PSB-GO) disse ser difícil para os parlamentares acreditarem nas respostas dos depoentes, observando que a Vale paga os advogados de todos os investigados pela CPI.

— Nós estamos aqui fazendo perguntas sérias, mas como vamos acreditar que ele vai chegar aqui e falar a verdade, e nada mais do que a verdade, sendo contratado e tendo defesa paga pela própria Vale? É muito difícil — lamentou.

De acordo com o relator da CPI, senador Carlos Viana (PSD-MG), Rodrigo Melo também era gerente executivo do complexo Mina da Alegria, e foi investigado no inquérito da Polícia Federal que apurou as responsabilidades na tragédia de Mariana, em 2015. O depoente, no entanto, negou qualquer envolvimento sobre a tragédia.

— Não tive relação com o acidente da barragem de Fundão. Em 25 anos de profissão, posso falar que sempre cumpri minha profissão de forma verdadeira e achar uma resposta para isso é muito difícil. Eu poderia estar entre os mortos, perdi um terço da minha equipe e não tenho porque não falar a verdade.

Carlos Viana quis saber de quem era a decisão de mudar o refeitório da frente da mancha de inundação da barragem de Brumadinho. Rodrigo, no entanto, respondeu que não pode ser responsabilizado, porque não tinha a função de fazer o monitoramento da barragem.

Questionamentos

A presidente da CPI, senadora Rose de Freitas (Pode-ES), se mostrou surpresa com as respostas do ex-gerente da Vale. Ela relembrou que, ao ser ouvido pelos senadores em abril, o executivo da área de Recursos Hídricos da Vale Felipe Rocha declarou que todos os diretores estavam cientes dos riscos de rompimento da barragem.

— Ele não sugeriu, ele afirmou expressamente. Então, quem, afinal de contas, está dizendo a verdade neste processo? O senhor não acha que uma declaração dessas tem um peso na lógica de raciocínio que esta CPI, o Ministério Público, a Polícia Federal estão construindo? — indagou a senadora.

Rodrigo Melo respondeu que não é responsável pelas palavras de Felipe Rocha. Declarou que tinha a atribuição de fazer a gestão operacional da lavra, do beneficiamento e do embarque de minérios, mas ressaltou que esse processo era feito a seco e, portanto, sem utilização de barragem desde 2015.

— A obrigação de fazer o monitoramento, o controle, a auditagem e a inspeção era de uma área técnica, fora da minha atribuição.

O senador Otto Alencar (PSD-BA), por sua vez, ponderou que muitas vidas teriam sido poupadas se a Vale tivesse mudado o lugar da estrutura administrativa e do refeitório da mineradora em Brumadinho. O parlamentar disse que a empresa cometeu um crime ao não realizar as modificações.  E considerou que a companhia não se interessou em fazê-las por causa dos custos, “já que os lucros sempre estiveram acima da vida das pessoas”.

Otto alertou que outras barragens, a exemplo da Gongo Soco, localizada na região central de Minas Gerais, também estão na iminência de romper. E frisou que nenhuma das respostas dadas por Rodrigo Melo à CPI o convencerá da inocência dos diretores da Vale.

— Considero o senhor um assassino. E a Vale é uma empresa assassina. Não tem como o senhor nos convencer de que não tem culpa. Não adianta fazer cara de paisagem, achar que não aconteceu nada, porque aconteceu, sim — indignou-se o parlamentar.

Adiamento

Nesta quinta-feira, também estava prevista a oitiva do ex-gerente-executivo de Geotecnia Operacional da Vale, Joaquim Pedro de Toledo. Ele alegou impossibilidade de comparecimento. O depoimento foi reagendado para terça-feira (21).

Agência Senado (Reprodução autorizada)

Foto: Pedro França


Voltar

Confira também: